sexta-feira, 23 de agosto de 2013

“Um dia a gente descobre...Desse dia em diante a gente é feliz...”


Ao ouvir a máxima de Juliette: um dia a gente descobre...Desse dia em diante agente é feliz, eis que reconheço que essa frase deveria ser aplicada para todos, mas será que não seria chato descobrir? Será que não é melhor não se encontrar do que ter a comprovação ínfima de que o feliz é apenas provisório? é...acho que estamos sempre feliz, nunca somos. Se somos humanos logo vem a total comprovação: somos concentricamente insaciáveis, amamos o outro pelo que o outro recupera de nós, depositamos nos sonhos dos outros um pouco de nossa agonia e cura. Tolos- sabe? Tolos. Nos impressionamos demais com essa busca pela felicidade afrontosa, e sabe, deixamos de valorizar o estado de ir, a bebedeira com finalidade de ressaca, a reclamação pelo prazer da razão, o gosto de arrependimento e a delicia do gozo breve.

Contaria sobre as vezes que...



Há um lugar estreito entre as frestas do meu peito que me arrancam um medo profundo de verberação. há dias como estes que não há sede, em que nem a presença de um saudoso amigo ou uma volta no paraíso atenuariam a brisa do coração. Dias como estes me causam espanto, cegueira, aperto, soluços...como se um tropeço escurecesse minha visão.
Tem muito pouco a ver com solidão, cegueira espiritual, falta de inclinação. Meu ócio é por uma causa conjunta, como se fosse uma casa suja, uma imagem vulta, um piso em que não se pode pisar. Preciso é de veleidade, volubilidade mas na verdade só é medo de fraquejar de despistar. Me mandam ler, me falam de budismo, Lispector, niilismo e só enxergo introspecção, algo lá na frente como uma espécie de respiração e pra chegar lá preciso entender melhor sobre negação. 
  De repente passo a ver que todos tem medo também, que os normais são como heróis, que o tempo é um baú com um candelabro ao lado, aceso, esgotando-se em horas que se vão como vela na noite. Nessa hora penso que é melhor correr para janela pois são dias em que faltou luz e que se enxerga o baú parado no canto de nossa sala, e o que nos resta é correr para mirar fora a explosão de sentidos que a atração das estrelas nos traz , carregando consigo um pouco a respeito do eu, talvez o único momento revelador na navegaria de existir, daí voltamos a nos apaixonar de novo por nós.





sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Prezadíssimos Ouvintes

Itamar Assumpção

O novo não me choca mais
Nada de novo sob o sol
O que existe é o mesmo ovo de sempre
Chocando o mesmo novo
Muito prazer
Prezadíssimos ouvintes
Pra chegar até aqui tive que ficar na fila
Agüentar tranco na esquina e por cima lotação
Noite e aqui tô eu novo de novo
Com vinte e quatro costelas
O jogo baixo, guitarras, violão e percussão e vozes
Ligadas numas tomadas elétricas e pulmão
Já cantei num galinheiro
Cantei numa procissão
Cantei ponto de terreiro
Agora quero cantar na televisão
Meu irmão o negócio é o seguinte
É pura briga de foice
Um jogo de empurra empurra
Facão tiro chute murro
Chamam mãe de palavrão
Sorte não haver o que segure
Som senhores e senhores
Mas quem é que me garante
Que mesmo esses microfones
Sempre funcionarão?
Cantei tal qual seresteiro
Cantei paixão, solidão
Cantei canto de guerreiro
Agora quero cantar na televisão